sábado, 23 de agosto de 2008

Fala mais alto!

Priiiimmm. Deu o primeiro toque de início da peça. No hall de entrada do Teatro José de Alencar as pessoas já punham-se em três filas para ocupar seus devidos lugares nas cadeiras da sala de espetáculos ( só um detalhe: se no próprio ingresso já vem marcando o lugar de cada um, então qual o por quê da fila? Hahahaha Isso é só pra começar hein?!). Abriram-se as portas. Pior do que a fila foi ver as pessoas correndo desesperadamente para buscar seu lugar hahaha. A cena era patética: as pessoas empurravam-se umas nas outras para esperar a peça... Não me sai da cabeça uma senhora gorda que tropeçou na escada com uma bolsa na mão para sentar em sua cadeira hahaha (muito bom!) Mas ok, tudo bem. Com vinte e cinco minutos de atraso eu estava entrando pela primeira vez em um espetáculo da Mostra Brasileira de Teatro Transcendental que já alcança sua sexta edição na cidade de Fortaleza.

Bem, a priori eu gostaria de parabenizar os idealizadores do evento pela iniciativa de solidariedade. Nos últimos cinco anos o evento já arrecadou mais de 400 mil reais e 45 toneladas de alimentos que foram doadas integralmente a entidades beneficentes. Contudo não me convém aqui falar do conteúdo (religioso-espírita) do evento em si, e muito menos do todo, já que conheci apenas uma parte dele. Mas partilho o que vivi em minha noite de sábado: um show de horrores! Um verdadeiro culto à estética do grotesco. Pronto: falei! Falei. Falei. Falei.

Se os organizadores do evento querem, não só fazer da mostra um espaço de “educação religiosa” e sim uma mostra teatral de peso, pois que façam jus ao investimento dado ao evento, e sobretudo, à repercussão dada na mídia local. Ah e não me venham dizer que porque é de Jesus então tem que ser simples. Que nada! Digo e repito: simples sempre, simplório nunca. Outro dia fui a um espetáculo musical de Semana Santa em uma igreja evangélica. Fiquei estarrecido com o algo tão bom e original feito só, acreditem, com voluntários ;)

Bem eu nem sei que companhia de teatro é aquela. Só sei que vieram de São Paulo. Caracas foi simplesmente uma das piores coisas que vi nos últimos tempos. Só lembrei de uma peça que fiz no meu tempo de colégio (hahaha). Primeiro, quando se abre a cortina, aparece uma moça gritando, para simbolizar uma força maligna. A maquiagem do rosto da atriz mais parecia com a cara de um panda. Ela se contorcia dançando um jazz muito, muito ruim. Depois um rapaz morre e vem uma legião de espíritos maus buscá-lo (Ghost - Do outro lado da vida hahaha). A partir daí sabe o que acontece? Adivinhem o quê? Dou um doce se acertar. Eles começam a contar a vida pregressa do jovem morto. Para ilustrar esta parte do roteiro surge outra moça dançando This is the rhythn of the night (aquele hit péssimo dos anos noventa) com um grupo de jovens caracterizando, assim, o “passado negro” do rapaz (Hahahaha muito caricato). Enquanto isso um homem descalço, vestido com uma bata de cirurgia, (que até agora eu não entendi o por quê de tal figurino) aparece falando super baixo. Pô sacanagem se o ator fala baixo pois que providenciassem um microfone de cabeça para o cara... Bem, só sei que com dez minutos de peça eu escuto um grito da platéia:

- Fala mais alto!

Glup! Depois desta pérola foi dado início a um coro que urrava repetindo o mesmo ruído. A celeuma assolou todo o teatro centenário de Fortaleza. Tremi! Olhei de “rabo de olho” para o lado e, suando frio, vi uma mulher super bem vestida, e aparentemente elegante, que apostou no seguinte grito bem nasalisado:

- Fala mais alto aê que daqui num dá pra nóis ouvir naum.

Me veio na mesma hora: “Oh God! É hora de dar tchau. É demais pra mim”.

Levantei-me e saí de finim... (risos). Eu hein?!

5 comentários:

Unknown disse...

Relaxa, Felipe. Transcenda! Hehehehe.

Veleiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Veleiro disse...

Felipe, que bom ler isso aqui. Também estava no teatro nesse dia, acho que foi a coisa mais trash que vi na minha vida. Da cena de correria até a pretensa encenação no palco. Tudo ali era ruim, tudo. Não havia texto teatral e sim pura e simplória doutrinação. Não havia atores em cena e sim "irmãos de fé" como eles diziam no suposto texto teatral. As cenas de jazz foi também algo estarrecedor, eu ria tanto que estava com vergonha de estar ali. Sinceramente, será que alguém ali levou aquela encenação a sério? Será que aquelas pessoas se deixaram levar pela tentativa de doutrinação? Mesmo os já doutrinados e adeptos do espiritismo, será que eles não sentiram que estavam diante de uma das maiores farsas, sem qualquer conteúdo de dramaturgia, sem qualquer conteúdo artístico? Aquilo não é arte, aquilo não é teatro. Sabe aquele programa da Record Fala que eu te escuto? Pois eles dão um show de dramaturgia. Contam umas histórias do começo ao fim. Ou seja, não é questão de religião ou de doutrina espírita, é questão de apresentar algo muito ruim mesmo, algo completamente incompatível com o Teatro lindo que estava à disposição daquele grupo. O exemplo dos voluntários citado por você só confirma isso. Se eu soubesse que iria ouvir uma pregação espírita teria ido a um grupo espírita e não ao Teatro. Tirando tudo isso só ficou a crise de risos que tive relembrando essa noite de sábado. Valeuuuu.

Anônimo disse...

rapaz, lendo seu depoimento me acabei de rir, não por outra coisa, ams pq eu estava nso bastidores da peça... quando vi tudo acontecendo não consegui acreditar que alguém em sua santa inteligência fôra capaz de escrever ou receber do além algo tão grotesco e sem pé nem cabeça... mas aqui vão algumas coisas sobre...
- o cara que falava baixo falava assim pq disseram que a personagem exigia, mas então que dessem injeção de adrenalina nela, pq era péssimo, lá de dentro ouvi o berro do fala mais alto...
- o troço dos pés descalços e da bata é pq no céu kkkkk... existem médicos que recebem os mortos, segundo eles, e que para direcionar essas almas elas são examinadas e clinicadas... será que tem unimed?

...enfim... a noite foi inteira grotesca... e olha que vc só viu o que tinha fora viu, o belo!

Anônimo disse...

Felipe,
Morri de rir do seu post...as vezes a vida parece uma pegadinha do Faustão né?? (pelo inusitado e tb pelo mau gosto!)
Equilibrista